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  • Papagaio para Raul

    Ainda criança pequena, quando comecei a tomar tento das coisa, fiquei encantado com os passarim. Na época não sabia bem o porque, mas hoje refletindo sobre isso penso que naquele momento não era a beleza física ou dos canto que me chamavam atenção, mas a capacidade de avuá, deslizar daqui prali, de lá pracá por conta própria, carregando peso do próprio corpo. Me encantava o bailado das Andorinhas em bando ou suas acrobacias solitárias acima do açude da roça onde eu morava. Quando eu e meus amigos deitávamos na grama do campo de futebol pra ficar olhando os desenhos das nuvens eu prestava mais atenção nos Urubus, que vez ou outra apareciam como pontinhos pretos levitando na imensidão azul, aparentemente sem esforço algum. Ficava me imaginando em seu lugar e me vinha uma sensação maravilhosa de liberdade, me imaginava vendo lá de cima, com o olhos do Urubu, a terra lá em baixo, as casas, igreja e o campo de de futebol onde meu corpo descansava naquele exato momento. Alguns anos depois, mudei com meus pais para um bairro da periferia de Pará de Minas onde a cultura do papagaio era muito grande. Nos meses de vento o céu ficava tomado por essas engenhocas coloridas que se misturavam com pássaros e aviões. Hoje pensando nisso acho muito simbólico, o bairro fica no alto e se chama Santos Dumont, o povoamento se desenvolveu muito em função do aeroporto municipal construído naquela área. Era um momento difícil na minha família, havíamos acabado de chegar da roça, meus pais procurando emprego, morando de aluguel e por mais que o bairro fosse numa periferia meio zona rural, o espectro da cidade pairava no ar. Não tinha dinheiro pra comprar linha então o jeito era pegar sacos de linhagem e ir tirando pedaços de linha e emendar pra podê soltar nossos caixotinhos (tipo de papagaio sem vareta feito com papel dobrado). Nesse primeiro momento meus pais ainda não me deixaram brincar na rua. Algum tempo depois quando já havia conquistado o direito de perambular pelas ruas do bairro, comecei a pegar pedaços de linha 10 emboladas que os maiores descartavam. Era só desembolar e ir emendando pedaço por pedaço e tecendo a colcha de retalhos que levaria minha mutuca (cubúia, papagaio maltrapilho, ruim de vôo, mal feito) cada vez mais alto. Mas quanto mais alto maior era um risco, o vento forte tencionava a linha cheia de emendas, quase sempre algum nó desatava e uma das regras da brincadeira era que papagaio torado não tem dono. Também sempre havia alguém mais velho com cerol, como uma ave de rapina esperando uma possível presa aparecer em seu território para atacar. Pela proximidade com o aeroporto, dependendo da posição do vento eram os aviões os maiores predadores, cortavam nossas linhas ao decolar ou pousar. Os meninos cujas casas faziam divisa com a área do aeroporto costumavam pular lá e soltar papagaio na pista dos aviões, era perfeito, sem fios e árvores que pudessem atrapalhar. Colei com eles muitas vezes, em diversos momentos o pessoal do aeroporto chamou a polícia devido ao risco de acidentes, mas quando ela chegava a gente corria e se escondia pra voltar assim que ela fosse embora. Algum tempo depois, um pouco mais velho e com a técnica do feitio de papagaios apurada, me pego num fim de tarde soltando um papagaio estilo foguetinho (cumprimento maior que a largura) aerodinâmica que lhe dava mais agilidade nas acrobacias já que a resposta aos estímulos do soltador era mais rápida, me veio à lembrança aquele sentimento antigo da infância. Naquele momento o tempo parou e me senti fundido com o pedaço de plástico e bambú, amarrado por uma linha de algodão que desafiava a gravidade bailando pelo céu, pra cima, pra baixo pros lado e pra frente. O papagaio e eu éramos um só, ele era a extensão de mim e eu a dele, essa sensação foi mágica e indescritível em sua totalidade por mais que eu tente. Até porque naquele momento o que me interessava era viver aquilo, assim como a maioria daqueles meninos que como eu se fundiam com seus papagaios, muitas vezes sem saber. Papagaio sempre foi uma das brincadeiras de infância que mais me fascinou, além do que descrevi aqui existem muitas outras questões e reflexões que no momento não são pertinentes, mas todo ano quando o vento sopra mais forte e constante, traz consigo esses sentimentos da infância que permanecem em mim. Então dou um jeito de fazer um papagaio e revivê-los, por outro prisma já que não sou aquela criança de outrora mas ela ainda é parte relevante da minha construção. Também sempre gostei de trabalhos manuais, autonomia e reaproveitamento, a engenharia popular empregada nos papagaios é maravilhosa, embora perceba cada vez mais a coisa se rendendo ao capital. Na minha época não tinha muita graça soltar papagaio que não foi você mesmo que fez, havia um ritual de sair atrás do bambuzal, colher o bambú, fazer as varetas, reaproveitar um plástico e empenhar seu tempo, sua força, seu conhecimento e intento naquele ser. Essa era a mágica e quando ficava pronto e ele subia ao céu correspondendo todas ou grande parte das qualidade que você desejou era magnífico, momento de gozo e realização. Hoje é comum varetas de inverga de plástico e até linha com cerol ultrapotente de fábrica, o capitalismo não sabe brincar. Dia desses acordei querendo fazer um papagaio, sureco (sem rabiola) que é considerado um papagaio mais difícil de se fazer e tem uma dinâmica diferente de soltar, sempre foi o meu preferido. Registrei o processo de feitura e quando ia botar ele no céu tive a notícia que Raul meu afilhado havia pousado em Belo Horizonte, depois de um tempo longe. Aí fui lá encontrar com ele e aproveitamos pra soltar juntos. Claudinha, Angela, Vanessinha e o pequeno Antônio também estavam lá, além de Sílvia que emprestou a laje da Galena e participou da brincadeira. Belo Horizonte, Julho de 2019 #caçador #coletor #plantador #imagem #foto #video #brincadeira #brinquedo #criança #papagaio #pipa #voar #pássaro #parádeminas #santosdumont #bh #mg

  • Travessia da Pinguela do Ribeirão Arrudas em Belo Horizonte/MG

    Eu que faço meus caminho Seja pra qual for o lado De acordo com o destino Que me é empurrado Mas não passo sozinho Ando sempre acompanhado Travessia da Pinguela do Ribeirão Arrudas na Avenida dos Andradas em Belo Horizonte/MG Julho de 2020

  • Navegantes

    As Aranha navega No céu infinito Tece suas vela Arma seus rito Redes de pesca De pegá musquito Os caminho se cerca À espera dos bicho Na calma espreita Soprar o destino Que traga suas preza E comprove seu tino Sabeno que ela Tamem corre pirigo: Procria sem trela, Espraia seus fio Pará de Minas, Abril de 2020 . . . . . #caçador #coletor #plantador #aranha #spider #imagem #registro #animais #animal #verso #poema #rima #poesia #video #ciencia #sabedoria #estudo #vida #mg #minasgerais

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